coração

domingo, 24 de março de 2013

Procure refletir.


 "Caro amigo, querida amiga. Você já notou que, no seu dia-a-dia, estamos continuamente fazendo a experiência do infinito, do ilimitado, da transcendência? Procure refletir: quando você faz a experiência do amor, não percebe que o seu amor é limitado mas, de alguma forma, é também ilimitado? Mesmo que experimentemos a finitude do nosso amor, há sempre um desejo de um amor sem limites, sem fronteiras, enfim, de um amor infinito? Aqui reside o mistério do nosso ser: nós somos limitados, mas há dentro de nós um desejo do infinito. Eu não sou o infinito, mas faço realmente a experiência de que sou capaz de, alguma forma, tocar, de vivenciar e de experimentar o infinito. Não sou eu que crio o infinito, mas posso desejá-lo, posso buscá-lo, posso recebê-lo como um dom. Sem deixar de seu finito e limitado posso acolher o infinito que me vem ao encontro. Eu não sou apenas um objeto cercado de realidades materiais: sou mais do que a realidade material que me cerca. Não sou apenas a soma de elementos materiais e de processos químicos. Percebo que a vida humana toca as fronteiras do mistério; constato que meu ser finito é constitutivamente aberto ao infinito. É exatamente esse o primeiro tema do Catecismo da Igreja Católica. O Catecismo surpreendemente não começa falando de Deus, mas do homem: do homem capaz de Deus. Se estudarmos a história da humanidade, se prestarmos atenção a nós mesmos e a nossos semelhantes constataremos que o ser humano sempre buscou Deus. E o nosso desejo de Deus é de tal ordem que não se contenta apenas em se relacionar com uma “força espiritual”, um “ser incorpóreo”, uma entidade espiritual indefinida. Nosso desejo de Deus almeja uma “união íntima e vital com Deus” (CatIgCat, 29). Em outras palavras: o ser humano deseja, no mais profundo do ser, estabelecer com Deus uma relação pessoal. O que significa essa relação pessoal? Primeiramente é a rejeição de toda relação mágica e supersticiosa. Relação pessoal com Deus não combina com feitiços, com magia, com adivinhação. Relação pessoal com Deus exige o encontro de liberdades e de interioridades. Trata-se de um eu e de um tu que se encontram no diálogo e na comunhão de vida. Tudo o que atenta contra a pessoa destrói também a relação pessoal. Por exemplo: tentar manipular Deus com fórmulas, com sortilégios ou com ações mágicas que pretendam obrigar Deus a fazer os meus caprichos impossibilita a relação pessoal. O mesmo vale da parte de Deus: se Deus se comunicasse tirando a consciência e a liberdade humanas, a relação pessoal seria negada pelo próprio Deus, uma vez que Ele manipularia o homem como mero instrumento. O desejo de Deus que está no interior do coração de todas as pessoas humanas é o que permite que o cristão, a partir da sua fé, possa dizer algo de sensato a uma pessoa que não crê em Deus. O cristão não dialoga somente com os próprios cristãos, mas pode se dirigir de maneira significativa também aos que não partilham a sua fé, porque também o outro é capaz de Deus. A capacidade de Deus, inerente a todo ser humano, é também a base do empenho missionário da Igreja: se a Igreja não pudesse falar de maneira significativa e sensata da sua própria fé, a missão tampouco seria possível. Dito em modo positivo: a Igreja é missionária porque constata que o ser humano é constitutivamente capaz de Deus e por isso pode acolhê-Lo em Sua revelação. Se o homem não fosse “capaz de Deus”, ele não poderia sequer acolher livremente a revelação divina. Se o homem não tivesse a capacidade de acolher Deus, revelação divina alguma seria compreensível e significativa para ele. Se o ser humano não fosse capaz de Deus, ele seria como o cego debaixo do sol; por mais que brilhe o sol, o cego não vê a luz, não porque ela não exista, mas porque falta ao cego a capacidade de vê-la."

                           ( Dom Julio Endi Akamine )

Nenhum comentário:

Postar um comentário